TRACK REVIEW: Robyn – Honey

Robyn ou Rodrigo Xuxa?

Depois de lançar a dolorosamente dançante “Missing U” no início de agosto e servir aquele pop robyn-esque que a gente já conhecia e sentia saudade, a Robyn agora acelera mais um pouco a divulgação de seu novo álbum, “Honey”, liberando dessa vez a tão atiçada faixa título do trabalho. “Honey” possui um percurso peculiar em sua divulgação: a música foi apresentada pela primeira vez ainda no início de 2017 durante o encerramento de um episódio da série Girls, em uma versão não finalizada e extremamente percussionada. Depois de mais um sumiço da artista e nenhum update preciso sobre a música, “Honey” renasceu das cinzas meses atrás ao longo de algumas performances ao vivo e ainda em versões intermediárias – que nem podem mais ser ouvidas atualmente visto que os vídeos foram varridos da internet. Ao que tudo indicava, a faixa ia virar mais uma grande lenda na carreira de lançamentos fragmentados que a Robyn andou construindo nos últimos 8 anos. Sigh.

Mas sim, depois dessa rota tortuosa e acidentada, agora nós finalmente podemos ouvir a visão mais acurada da Robyn para a canção e analisar, através dessa pista, o que o tão aguardado sexto álbum da cantora pode nos reservar. Instrumentalmente bem mais soft e delicada que o normal para artista, “Honey” parece ter se encontrado em seu novo arranjo, que mescla suavemente o deephouse com o synthpop e abre possibilidades para que Robyn explore mais as dimensões espaciais e temporais da composição. Talvez essa seja a grande arma da nova versão de “Honey”: ela brinca com seu desenvolvimento e seu ritmo mais lento, cresce progressiva e ao mesmo tempo parece atiçar o ouvinte pelo o que está por vir durante os próximos minutos – mesmo que seus quase cinco minutos não rendam nenhum grande plot twist.

“Atiçamento” é o termo certo para definir a faixa, que expressa isso não só na sua dimensão instrumental, mas também em toda a sua parte lírica. O verso que abre a faixa e depois evolui para o seu refrão, “Não, você não vai conseguir o que você precisa / Mas querido eu tenho o que você quer”, soa quase como a metaforização perfeita do jogo de paciência em que a Robyn nos lançou nos últimos anos, revelando material no conta-gotas e apresentando de forma insanamente vagarosa o que viria pela frente – e… bom… isso é mais ou menos a síntese do que o lançamento em si de “Honey” foi. Indo para além do instrumental atmosférico, a letra também ajuda na impressão “sensorial” que o single nos dá, onde a artista vai listando sensações e sabores que vão dos sussurros à percepção das cores, do mel à saliva.

É provável que esse cut final desagrade um pouco quem já havia se apegado ao que “Honey” era há um ano ou um ano e meio atrás, já que agora o trabalho ganha contornos menos imediatos, mais sensíveis e aquela propriedade de uma verdadeira faixa grower. Mas, de qualquer forma, a Robyn está em seu elemento aqui, dominando os gêneros da faixa como nunca e indicando que sua devoção ao pop perfection pode se perpetuar em qualquer que seja a arma sonora que ela escolha para se alinhar.